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sábado, 27 de dezembro de 2014

LITERATURA GÓTICA E SOBRENATURAL Nº 2

           Um grupo de jovens, em final de Ensino Médio, programou como atividade de final de curso, uma viagem à Ilha Formosa no litoral de seu estado. Era uma ilha pouco habitada, quase inexplorada, por isso deveriam levar barracas, alimentos, além é claro, de objetos próprios para quem desejava tomar banho de mar, jogar vôlei, dançar, coisas comuns aos jovens desta idade.
         Passaram longo tempo com os preparativos. Alugar micro ônibus para levá-los, verificar horário da balsa que os transportaria para a ilha, que tipo de alimento, quantidade de roupa, afinal passariam, apenas, três dias.
         A expectativa só cessou no dia da viagem, quando para a ilha se dirigiram.
          Nem imaginavam que um sentimento mais intenso sentiriam no primeiro dia.
           A ilha era bonita, com vegetação diversificada, árvores frondosas, mata cerrada em alguns locais mais distantes da vila onde eram recepcionados pelo dono de um pequeno bar que vendia alimentos, materiais para acampamento, velas, lanternas, cordas, lonas, colchonetes. Alugavam também, caso não desejassem comprar.
           Estavam ansiosos para ver um local para acampar que ficasse próximo ao mar, no pontal norte da ilha. Face a isso, saíram a embrenhar-se na ilha sem fazerem muitos questionamentos ao dono do bar, ou falar com qualquer dos poucos habitantes daquela pequena vila que viviam da pesca artesanal.
            Após caminhar cerca de uma hora acharam um local que lhes pareceu apropriado e começaram a montar as respectivas barracas. Tudo arrumado foram circular pela ilha, tomar banho de mar. Assim, entre uma atividade e outra o dia foi passando. Trataram de providenciar a alimentação para a noite, pois a fome já se fazia sentir.  
                A noite caiu e eles sentaram em círculos a cantar próximo a uma fogueira que fizeram para espantar insetos. Em certo momento começaram a ouvir um som que não era aquele produzido por eles. Ao término da música ouvia-se um uivo como de um animal. Começavam a cantar de novo, já sentindo certo temor por não conseguir identificar nem o som nem o animal. Os rapazes pensaram em ir atrás e descobrir a origem do som, as meninas, embora amedrontadas por ficar só, aceitaram ficar sozinhas enquanto eles saíram.
                  A qualquer barulho das folhas se assustavam e se aproximavam cada vez mais uma da outra. O temor era tanto que a qualquer movimento passaram a ter a impressão de ver vultos associados ao som que na realidade parecia aumentar.
                   Não é comum os pássaros voarem à noite, pois é sua hora de recolhimento, mas elas passaram a ouvir um bater de asas que foi se intensificando até um morcego pousar bem na ponta de um galho seco. Uma gritaria. Um susto. Que fazer? Seriam atacadas?
                   O pior ainda estava por vir, ou por se transformar. Um bater intenso das asas do morcego, um vôo circular e na frente delas, por encanto ou assombração surge uma moça, rosto branco como se transparente fosse, os olhos sombreados de negro, olhos profundos e os dentes tal qual um vampiro. Gritaram quase em uníssono. A aparição manteve-se calma, pediu que a escutassem. Era uma assombração sim, porque havia sido morta há alguns  anos atrás naquela ilha. Foi morta por um nativo que a surpreendeu na mata sozinha quando explorava a fauna do local. Era sozinha, seus pais haviam morrido em um acidente e ninguém deu por falta dela. A avó era idosa e morava longe. Tinha ido sozinha. Foi enterrada naquele local ermo, sem nome, sem uma oração, sem uma lágrima. Virou um vampiro, uma assombração, ou alma penada que ficava à procura de alguém que pudesse acreditar nela, e providenciar um sepultamento com dignidade. A maioria fugia desesperado. Os homens, ela não confiava, por isso com seu uivo e gemidos os havia afastado. Como eram mulheres, jovens e de coração ainda puro, poderiam ajudá-la.
              Não errou. As moças tremiam de medo, mas encontraram coragem para contar aos rapazes quando eles voltaram tudo que viram e que, a princípio, eles não queriam acreditar, mas elas contando os mínimos detalhes conseguiram convencê-los a seguir o morcego no qual ela, novamente, se transformara, para guiá-los até o local onde estava enterrada.
                Suas providências a seguir foram retornar ao bar na manhã seguinte, chamar via rádio a polícia, contar-lhes o que acontecera.
                 Os policiais encontraram os restos mortais da moça assassinada que uma vez identificada, sepultada passou a ter sossego e elevação espiritual deixando de assombrar ambientes da ilha e seus visitantes.
                                     ISABEL C S VARGAS
                                     PELOTAS-RS-BRASIL





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