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domingo, 14 de setembro de 2014

CRÔNICA SOBRE UMA SITUAÇÃO COMPLEXA: OS IDOSOS E O ABANDONO

                                  
                 Um dos grandes dilemas da sociedade atual é o que fazer com o idoso de sua família. Diriam todos que lessem esta frase que idoso não é problema, é uma benção, com o que eu concordo plenamente. Os idosos, os avós são pessoas em geral cheias de experiência, de ensinamentos para passar aos netos e até aos filhos no sentido de harmonizar as relações familiares, entre pais e filhos. São cheios de encantamento e doçura com os netos a quem amam duplamente por estarem tendo oportunidade de reviver sua própria maternidade sem o ônus da responsabilidade de educar porque esta cabe aos pais.
Não raro encontramos idosos colaborando para o sustento familiar com os valores de sua aposentadoria sendo que em muitos casos, nas classes de menor poder aquisitivo é seu provento de aposentado que mantém as necessidades primordiais. Neste segmento, os idosos permanecem junto aos seus pela dependência dos demais.
               Não podemos, entretanto, negar as mudanças que ocorreram na sociedade. Em 1970 o Brasil era um país de jovens. Hoje é um país de idosos com muito pouco de políticas públicas para atender o idoso. Ressalte-se que um dos últimos benefícios, além da aposentadoria, até então o único garantido por lei, foi a aquisição dos medicamentos pela farmácia popular o que diminuiu os imensos gastos com medicação a uma população cada vez mais crescente. Também a gratuidade no transporte público veio a auxiliá-lo no plano econômico.
                      Outro dado importante: Há sessenta anos as mulheres que trabalhavam formavam um contingente infinitamente menor que o da atualidade. O acesso à universidade e ao mercado de trabalho era muito mais restrito. Logo, a mulher permanecendo em casa, havia quem cuidasse do idoso.
                     As famílias eram mais numerosas e moravam em habitações maiores, podendo morar o casal e os filhos casados no mesmo local.  Em geral estas casas deram lugar aos edifícios. Moradias menores, com menos pessoas habitando. As famílias passaram a programar-se e a ter menos filhos. As mulheres tornaram-se tão profissionais quanto os homens. Os pais envelheceram. Aqueles que têm renda própria, condições financeiras de se manter, saúde física e mental, conseguem gerenciar sua vida. Com outras propostas surgidas na atualidade, como universidade para terceira idade, incentivo para viagem, estes conseguem desfrutar da idade avançada com grande qualidade de vida e satisfação pessoal.
                    A problemática surge quando os idosos tornam-se dependente física e economicamente.
                   Quem cuida do idoso doente se todos devem prover seu sustento e os filhos menores estudarem? Ai, então surge um dilema sério. Colocar ou não em casas geriátricas? Hoje o número destes estabelecimentos aumentou consideravelmente assim como os valores por eles cobrados. Geralmente estes valores são muito superiores ao poder aquisitivo da classe média baixa e classe média média, seguindo as classificações sociológicas. Há casas, evidentemente, para todos os segmentos, porém o tratamento será diferenciado quanto à qualidade do local e as qualificações oferecidas.
                 Muitos colocam nas instituições consideradas básicas no quesito de atendimento qualificado e lá deixam seu idoso indo visitá-lo esporadicamente , quando não o abandonam de vez , deixando-os naquilo que poderíamos chamar de limbo. Não estão vivendo, também não estão mortos, não foram encaminhados para o céu ou para o inferno, para aquelas cuja religião assim define o pós- morte, mas na realidade, estão vivendo no inferno emocional, longe dos familiares, daqueles a quem se dedicaram ao logo da vida, privados do convívio que dá sensação de pertencimento e sabendo-se, de antemão mortos no coração daqueles a quem amaram a vida toda e apesar do abandono ainda amam.
               Aqueles que durante a vida adulta não tiveram bom relacionamento familiar, saíram de casa por drogas ou alcoolismo e tornaram-se à margem da sociedade constituem-se em outra situação mais difícil ao ingressar nesta faixa etária.  Já não se acostumam mais a manter vínculos preferindo viver sem regras e sem vínculos afetivos e emocionais. Não tem familiar ou se perderam dos mesmos anteriormente e não aceitam regras das poucas instituições como albergues públicos que os atendem ou poderiam atendê-los. Muitos já se tornaram casos de atendimento psiquiátrico por perda de referencial e de pertencimento a um grupo. Não é difícil encontrá-los vivendo em companhia dos cães, gatos nas ruas. Tornaram-se desconhecidos para os possíveis familiares e quiçá para si mesmo.
                  São casos que demandam atendimento específico e de políticas assistenciais próprias para reinserção na sociedade se ainda houver tempo possível.
                   A princípio a sociedade parece só condenar os familiares de quem foi abandonado, mas, infelizmente, sempre há o outro lado da moeda a ser investigado, pois pode ocorrer que aquele idoso que foi abandonada tenha sido um pai distante, que espancava filhos, mulher, que vivia desregradamente sem importar-se consigo mesmo e com a família.
                   O ideal é que toda a pessoa idosa viva no aconchego de um lar, junto aos familiares, desfrutando desta fase da vida com carinho e amor de modo a ocorrer uma gratificante troca de sentimentos e auxílio mútuo.
         
                      Isabel C S Vargas
                      Pelotas-RS-Brasil

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