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terça-feira, 3 de julho de 2012

ENCANTAMENTO



 Isabel Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS

Encantamento

Leninha sempre fora muito medrosa. Não gostava de escuro, de histórias de assombração, de bruxas, nada que de uma forma lhe transmitisse insegurança.
Talvez o medo a instigasse a ponto de ficar a pensar constantemente no assunto e, segundo dizem, atrair para si o que, na realidade, não queria.
Certa noite, antes de dormir, deu uma volta no pequeno jardim de sua casa. Nele havia um pinheiro plantado por seu pai, logo que compraram a casa. Ele quando comprado, segundo seu pai dizia devia ter um metro de comprimento; Na realidade, embora o tamanho, ele era novo como ela. Uns dez anos. Só não cresciam na mesma proporção. Sempre que o tempo estava muito úmido, na volta do pinheiro cresciam muitos cogumelos. A região, por natureza é úmida. Azálea, amor perfeito, brincos de princesa, hibisco e hera eram as outras espécies de plantas que existiam ali. Seu pai quando via os cogumelos desejava arrancá-los. Não sabia se tinham algum veneno ou não, o que poderia prejudicar os cães, pequenos e delicados.
Ela sempre dava um jeito de impedir que ele fizesse isso. Achava os cogumelos tão bonitinhos. Pareciam de histórias infantis. Quando sentava embaixo do pinheiro conversava com eles. Perguntava-lhes se eles eram moradias de seres pequeninos, elfos ou duendes não sabia precisar.
Nesta noite fez isso mais uma vez. Tinha muita curiosidade. Lia muito sobre seres encantados, mas nunca vira algum.
Andou pelo jardim, olhou as estrelas, conversou com cada pequena planta e só então foi deitar-se.
Queria deixar a janela aberta, mas a aragem fria da noite não lhe permitiu. Achava que a janela aberta facilitaria a entrada de algum ser. Na verdade, seu pequeno jardim era sua floresta encantada. Para seus pais, pessoas naturalmente distante das coisas mágicas, pois tinham que se preocupar com coisas mais sérias, inclusive zelar pela segurança diziam que o máximo que aconteceria seria um ladrão entrar pela janela aberta.
Conformou-se e foi dormir. Muito aborrecida.
Apagou a luz, puxou as cobertas da cama. Só um facho de luz entrava pelas venezianas da janela do quarto.
Adormeceu.
Um tempo depois sentiu como se a chamassem. Ficou em um misto de sonho e realidade. Virou-se para o outro lado. Seus olhos bateram na ponta da cômoda, exatamente onde o raio de luz batia. Assustou-se. Sentado displicentemente na beira do móvel, um ser inimaginável. Ou melhor, imaginado sim, mas só no mundo da fantasia. E ali era real. Seu quarto, suas coisas e ele ali. Então, era real.
Ele sorria para ela. Sorriso brincalhão. Parecia que já a conhecia e a seus pensamentos também.
Não sabia definir se era um duende, um elfo. Nem sabia muito bem a diferença entre eles. Só sabia que eram protetores da natureza.
Tinha um sapato igual àqueles que via nas histórias, bem comprido com a ponta virada para cima. Era marrom. A calça cinza e o casaco verde. Na cabeça um gorro com a ponta caída. Quando ele se mexia, parecia que mudava de cor. Parecia um arco-íris em sua cabeça. Em outros momentos parece que se transformava em uma estrela.
O que lhe chamou a atenção é que ele sorria muito. Sorria e falava que sabia quem ela era e de como gostava das coisas da natureza. Pediu-lhe que continuasse assim.
Seus cuidados tinham muito valor porque só com o cuidado de todos haveria vida no futuro. Que cabia às pessoas como ela, de coração puro e comprometidas com o bem, espalhar esse sentimento de cuidado e proteção para um número sempre crescente de pessoas.
Leninha comprometeu-se com ele. Mas desejava que ele aparecesse mais vezes.
Ele despediu-se e ela seguiu dormindo.
Ao amanhecer, abriu os olhos, sem se recordar de nada.
Quando se levantou viu um pequeno buquê de flores do campo sobre a cômoda.
Lembrou-se do ocorrido.
Não fora um sonho.









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