Conexões
Isabel
C S Vargas
Betina sentia-se culpada desde o
trágico falecimento da prima. Culpada por não ter comparecido aos funerais, por
não ter ido dar um último adeus àquela com quem tinha, além do parentesco,
amizade e carinho.
Não lhe fora permitido ir. Afinal, cidade
pequena, morte trágica- assassinato pelo amante- pessoa conhecida e influente.
Ela, uma simples estudante rendera todo tipo de comentário e maledicência. Era
conveniente manter-se afastada, segundo as ordens dos pais.
O preconceito por aquilo que classificavam
como má-conduta se sobrepunha à dor. Era como se fosse castigo pelo erro. Não
teve intenção sequer de esboçar vontade de ir. Nem sabia se seus pais foram às
despedidas. Era tudo muito velado. Comentários à boca pequena.
Passado um tempo, foi ao campo santo
por ocasião do falecimento de uma pessoa amiga.
Resolveu, junto com o namorado,
procurar o túmulo de Solange.
Queria mostrar a ele o túmulo da
finada. Andaram um bom tempo, sem sucesso, por entre os corredores do cemitério.
Já estava pensando em desistir da empreitada de apresentação post-mortem quando
ouviu um chamado. Só ela ouviu. De forma clara, inconfundível: “Betina”.
Um arrepio percorreu-lhe a espinha.
Virou-se para trás. À sua esquerda, bateu o olho na lápide que não havia
percebido na passagem. Era ela: Solange!
Não acreditava no que ouvira e no que via.
Mas as evidências estavam ali, bem na sua frente.
Deixou as apresentações para depois.
Saiu intempestivamente. Nunca mais voltou naquele lugar.
Também não esqueceu o fato.