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terça-feira, 28 de maio de 2013

TRABALHO DE LOIVA HARTMANN ENVIADO PARA PUBLICAÇÃO.

                                                    DOIS CHAMADOS  JOÃO ...

                                                                                                      Loiva Hartmann
                                                                                                Conselheira do IJSLN


“Música é vida interior. E quem tem vida interior, jamais padecerá de solidão.”
Arthur da Távola foi perfeito nesta interpretação. Mas, segundo esta professora de línguas, leitura é vida interior, e quem tem vida interior, jamais padecerá de solidão!.
À semelhança do excelente e longo registro que, pela credibilidade de quem o assinou, AMonquelat (dez artigos, dezembro 2012 a março 2013), deve figurar como documento histórico, igualmente fui apresentada a João Simões Lopes Neto. Há mais ou menos 35  anos, em aula de literatura brasileira, uma jovem professora universitária, trouxe um texto, de autor gaúcho, do qual emanava a brisa do campo, o ser humano não conspurcado pelas manhas da cidade e que se integrava perfeitamente ao ambiente. Fazia parte da natureza, assim como seu pingo e seu cusco. Via com olhos de ver.
“Deus estava no luzimento daquelas estrelas ... o cachorrinho tão fiel lembrava a amizade da minha gente ... o meu cavalo lembrava a liberdade, o trabalho, e o grilo cantador trazia  a esperança ... e era luz de Deus por todos os lados! ...
A natureza flamante de vida! O ser humano em transcendência!
Não falávamos em regionalismo. Analisávamos um dos bons escritores brasileiros. E estou convicta de que o provincianismo e os rótulos aplicados a JSLN, restringiram duramente a divulgação de suas obras e demais talentos. Consequentemente, a percepção do quão abrangente é seu trabalho: como educador, patriota, escritor. Empresário? Como Érico Veríssimo, Castro Alves, John Keats, tantos e tantos outros, em todos os países, sequer conseguiam manter-se num emprego ou empresar o que quer que fosse, pois seu mundo era muito maior. Fossem pessoas normais, não teriam deixado o legado que, gerações após gerações, os cultuam. Não morreram, não morrerão jamais, permanecem encantados em suas obras.
Na revelação do Antigo Testamento, o gesto criador de Deus é a palavra. As coisas existem e são o que são porque falamos por um poder instituidor original.
Leitora assídua e pesquisadora de J.G. Rosa, há muitos anos, seguidamente percebo a intertextualidade, o diálogo entre os textos dos dois Joões. Em que? Além da coincidência perfeita na estrutura narrativa, principalmente pela linguagem, a qual, deduzo, é uma necessidade temática profunda – uma forma de conhecimento e de interpretação da realidade, em ambos! O vocábulo inédito leva ao âmago das coisas e a revelação de sua essência se faz unicamente por meio desse vocábulo.
Mais, em ambos, há a fusão perfeita entre prosa e poesia. O que valeu, foi o ileso gume do vocábulo pouco visto e menos ainda ouvido além das fronteiras em que foi concebido. A expressão regional, pela temática universal, alcançou o cosmo.
A diferença entre os dois, está em que, Rosa, ao invés de apenas recolher a linguagem coloquial regionalista e estampá-la em sua obra, recria essa linguagem, servindo-se para isso de recursos inusitados, que vão desde a criação lingüística pessoal até à mistura artisticamente dosada de vocábulos arcaicos e modernos, nacionais e estrangeiros, eruditos e populares (inclusive gíria e termos indígenas) e ao jogo exótico das palavras na frase, obtendo assim um ritmo personalíssimo e surpreendente. Ao invés de caracterizar limitadamente o homem do sertão mineiro, dá um sensível toque de universalidade ao enfoque desse homem: partindo das tradições e costumes restritos de um determinado grupo humano, medita tão a fundo sobre isso, que suas postulações passam a ser válidas como tradução da problemática humana em todos os lugares e em todos os tempos.
Rosa e Simões, citadinos cultos, fixaram o momento histórico e o homem do interior, mas o diálogo existente entre seus textos, e muitos outros que as análises cada vez mais intensas mostram e mostrarão, promove a universalidade de suas obras. Os seres rudes, em mundo próprio, retratados pelos Joões, são mergulhados, através dos temas, num horizonte aberto, universal, mas, cuja moldura é sempre, em Rosa, o sertão mineiro, e em Simões, a inigualável, apaixonante e solitária campanha rio-grandense!






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