Postagens populares

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Meu texto em "Se todos fossem iguais a você"

 Isabel Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS


Aparentemente, o dia seria igual aos demais. Clotilde já sabia o que iria ocorrer.
Levantar, tomar seu café bem simples, sem leite e com uma fatia de pão única, sem direito a repetição. Arrumar sua cama, no quartinho do fundo da casa que a filha, generosamente, cedia para ela. Era sua única filha.
Quando jovem, conheceu Juvenal, seu marido com quem viveu até que ele faleceu vítima de um câncer. Ele não a deixara trabalhar fora. Também, não sabia se conseguiria. Casara cedo e sem profissão definida. Não passara do ensino ginasial.
Quando o marido faleceu teve de ir morar com a filha, pois não conseguiria pagar o aluguel, mesmo na periferia porque a pensão que recebia era irrisória.
Na casa da filha sentia-se um estorvo. Elas pouco se falavam. O marido dela era um jovem de seus trinta e cinco anos que era de meias palavras, pouca afetividade e muita ambição.
A vida era meio apertada. A filha, a exemplo dela, não trabalhava fora, por vontade dele.
Vivia reclamando do custo de vida, que tinha que aumentar o orçamento e foi em função disse que ele passou a colocar no orçamento da casa sua pensão. Já decorreram quatro anos desde que ela passou a não dispor de dinheiro. Então, ficava em casa, sem amigos, sem carinho, sem lazer. Ajudava na organização da casa, mas sem muito participar, opinar ou receber qualquer coisa que demostrasse que gostavam de sua presença.
Para não ser injusta, tinha que considerar que saía de vez em quando para ir à igrejinha ali perto. Era bom porque encontrava pessoas diferentes, às vezes, durante a oração alguém a abraçava ou apertava sua mão, sorridente, desejando-lhe paz. Outras, recebia a benção do padre ao final do culto. Parecia sentir-se mais fortalecida com esses episódios. Gostava de ir ali. Não era sempre que podia , só quando a filha a mandava passear e só voltar umas horas mais tarde.
Sobre estas ocasiões não podia comentar nada com o genro e nem com outra pessoa.
Já sabia que este dia seria um deles. Era quinta-feira. Sempre às quintas. Já estava antevendo que o dia passaria mais rápido. Ao mesmo tempo, parecia que as horas se arrastavam.
Após o parco almoço e a saída do genro para a loja onde trabalhava no almoxarifado, a filha a avisou que deveria dar uma volta, ir à igreja e só voltar lá pelas cinco horas.
E assim foi. Chovia na hora que saiu. Mas, mesmo assim foi até lá. Rezou, rezou tanto que as horas passaram e ela quando se apercebeu tremia de frio. Sentia uns calafrios.
Era hora de ir. Tinha pressa de chegar a casa e tirar a roupa úmida que tinha no corpo. Chovia ainda, agora mais forte, as ruas estavam com muita água. Seus óculos com água a escorrer turvava sua visão. Quando se deu conta, só ouviu a buzina, a freada e nada mais.
Silêncio. Acreditou que estava bem, pois se sentia flutuar. No meio da rua, uma mulher estirada que ela não reconheceu. Pensou seguir seu caminho. Deus devia ter escutado suas preces. Queria a paz e o aconchego de um lar. Estava voltando para casa.
http://www.camarabrasileira.com/stf13-039.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário