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sábado, 16 de novembro de 2013

Solidão
                                                                                  Isabel C S Vargas


  Há autores maravilhosos que falam sobre o escrever como ato solitário. Da solidão brotam as idéias, os textos, a obra.Traduzem a solidão como facilitadora ou indutora  do ato de escrever.
Não estou aqui para concordar ou discordar. Minha idéia é duvidar. Até porque em meu entendimento é da dúvida que resultam coisas boas.
Da solidão só sai amargura, tristeza, mágoa (ou são as mágoas que geram solidão?) azedume, isolamento, distanciamento, sofrimento, incapacidade de conviver (e por não saber viver com, as pessoas morrem). Na solidão encontra-se muita dor e não é dor pequena não, muito menos por vontade própria, porque a solidão é danada. Vai pegando a pessoa aos poucos, enredando em uma teia, que depois não dá para sair. Quando o indivíduo percebe, está por inteiro na solidão e aí, para escapar só com ajuda, se tiver sorte, e se não tiver espantado todo mundo à sua volta. Aliás, espantou a si mesmo e nem percebeu.
É como aquele fenômeno da psicoadaptação, no qual a pessoa vai recebendo as informações aos poucos, por mais difíceis de aceitar que sejam e quando se apercebe já acostumou.
 Na solidão é a mesma coisa ao contrário. A vida vai lhe sendo tirada aos poucos, e como é devagar, como em conta gotas não dói tanto que ao se aperceber ela já fugiu de todo. Aliás, ele fugiu de si mesmo sem ter consciência disso. E dessa inconsciência nada brota. Do nada não brota semente. Não prolifera vida.
Então, para mim, abaixo a solidão esse danado mal do século que pega pessoas e transforma-as em formigas, sem vontade, sem prazer, sem sossego.
Para mim, escrever brota da vida, do amor, da falta dele, mas do amor por si mesmo que é capaz de fazer qualquer pessoa desafogar dores intensas no mais desassossegado rabisco, muitas vezes sem forma, mas como puro ato de sobrevivência, de agarrar-se à vida, fugir da insanidade. Escrever para mim brota do entusiasmo, que é ter algo de sagrado em si mesmo. Então ao escrever sacralizamos o sagrado, ou seja, a vida.
A solidão não nos permitiria escrever qualquer texto. Pelo menos para mim, simples mortal que através da escrita luta para não ficar à deriva.


                                                         

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