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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

NARCISO

 Isabel Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS
Narciso

Ser bonito, vaidoso, inteligente. Juventude eterna sempre foi sua meta. Sua beleza, arma de conquista insuperável, associada à habilidade de sedução sempre foi seu grande trunfo no relacionamento com as mulheres.
Desde muito jovem seus olhos claros lhe valiam sucesso com o sexo oposto.. Seu biótipo, simpatia, habilidade como galanteador eram garantia de sucesso. E ele gostava disso. Poder-se-ia dizer que aprimorou isso ao longo de toda a vida.
Casou cedo. Isto deve ter sido um episódio não classificado como acontecimento feliz. Talvez um empreendimento bom. Ela vinha de família com bens. Beleza e tranquilidade financeira não estressam. Tranquilidade prolonga a aparência física. Nada de olheiras, mau humor, preocupações desnecessárias...
Seguiu sua vida de conquistas. Às escondidas, é claro. Mesmo assim isso não deixou de interferir no relacionamento. Mesmo com filhos, Separaram-se. Correram boatos de filhos fora do casamento, porém não comprovados.
Passaram algum tempo separados, mas voltaram a viver juntos. E assim continuaram até os filhos completarem a maioridade. Depois cada um para seu lado. A princípio, não havia um bom relacionamento entre ambos, mas como o tempo a tudo ameniza até passaram a ser amigos. Iam jantar juntos, ao teatro.
Ele, um bom pai, bom amigo, bom amante. Seguiu na carreira ao longo dos anos.. Meio às escondidas, pois o fato de ter outra mulher, que ele mantinha meio às escondidas, não o impedia de olhares mornos para toda mulher jovem, sedutora que lhe aparecia na frente, em qualquer circunstância, quer em ambiente de trabalho, ou em ambiente social.
O tempo passou. A idade aumentando. As conquistas diminuindo. Ele ficando mais ranzinza, como é natural com homens mais velhos. Até que ela cansou. Foi embora. Cansou da quase clausura que vivia. Ele ficou só. Não entendia o porquê da solidão.
Tentou voltar para a mãe de seus filhos. Em vão. Ela estava curada da paixão da juventude.
Só lhe restou o espelho, seu eterno companheiro, onde examinava as rugas que se tornavam cada vez mais visíveis para seu extremo desespero.



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