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terça-feira, 16 de outubro de 2012
CADERNO 1
MUNDO REAL
por Isabel C S Vargas
Li um texto sobre materialismo e espiritualidade que trazia em seu corpo a Parábola da Caverna, de Platão, que
está inserida no livro VII de sua obra A República.
Na Parábola, o mundo material é retratado como uma caverna escura e nós, os humanos, somos identificados
como prisioneiros imobilizados desde que nasceram em uma posição tal que só lhes seja permitido olhar para
uma parede.
Devido às condições e situação em que se encontram na caverna, nada vêem além de suas próprias sombras, das
sombras dos outros prisioneiros e das sombras dos animais e objetos carregados pelas pessoas que passam pelo
caminho iluminado atrás de um muro. Identificam a si mesmo e aos outros como sombras. Isto passa a ser sua
realidade individual. Se ganharem a liberdade, terão dificuldade de aceitar a verdadeira realidade. O texto tenta
mostrar o difícil caminho da iluminação e do progresso espiritual.
Aquilo que denominamos de realidade, seria o que os sentidos percebem e que por isso mesmo passam a ser
nossos modelos mentais. A verdadeira realidade, por extrapolar em muito a capacidade dos sentidos, não tem aceitação imediata.
Ao me deter nesta leitura, inicialmente, relacionei com situações individuais, posteriormente, históricas e, finalmente, percebo nele a
explicação de situações atuais.
Vejamos a situação de determinados segmentos da população desta nossa república,
analfabetos, subempregados e vivendo prisioneiros da própria ignorância, cultivando o
espírito de rebanho e servindo de massa de manobra para políticos inescrupulosos e
marqueteiros competentes. Conseguem ver só aquilo que lhes é permitido ver, quer pela
manipulação que são alvo, quer pelas próprias limitações. São induzidos a crer como
realidade, como verdadeiro, só o que lhes é mostrado de forma obscura e fantasiosa.
Quando tentam abrir-lhes os olhos, para perceberem a verdade, diferente daquilo que até
então haviam percebido, torna-se difícil aceitá-la. Primeiro porque extrapola em muito
sua capacidade de entendimento e em segundo lugar porque a acomodação aparece-lhe
como caminho mais fácil, menos tortuoso, visto que já conhecido. O crescimento
demanda em atitude interna, que não permite acomodação, que pressupõe abertura para
a realidade, solidez de princípios, vontade férrea em atingir metas sem se deixar
desvirtuar ou corromper no meio do caminho. Pressupõe espírito forte, consciência da
importância de cada um como ser histórico, pensante e agente transformador de uma sociedade. Isto implica em responsabilidade.
Só que o comodismo leva as pessoas, de um modo geral, atribuir culpa das mazelas próprias e sociais a outrem e não assumir, desta
forma a sua parcela de responsabilidade pelas coisas boas ou más da realidade circundante.
Ora, estamos, no momento, em uma etapa importantíssima na vida da sociedade brasileira, visto que a liberdade de escolha foi
conquistada, porém a falta de percepção da verdadeira realidade confunde àqueles que ainda estão no início do processo de
crescimento, impedindo-lhes de aceitarem os fatos ocorridos à sua volta. Continuam sendo manipulados, para acreditarem que
escândalos, corrupção, roubos, tramoias, caixa dois, paraísos fiscais, pesquisas com resultados, às vezes distorcidos, são forjadas,
irreais, visto que fogem à percepção de seus sentidos, já habilmente manipulados subliminarmente por grandes investimentos em
poderosas mídias, a serviço de campanhas institucionais, o que se viu foi a precariedade de verbas para educação, saúde, previdência,
em contrapartida com altos lucros na protegida esfera financeira.
É importante o ressurgimento de valores morais, éticos sem os quais não se pode conceber uma sociedade livre na qual o peso da
justiça possa equilibrar a balança, visando um convívio social mais harmônico, menos desigual.
Isabel C.S.Vargas
Pelotas/Rio Grande do Sul/BR
www.arcadia-
portugal.com
www.antonio-justo.eu
www.isabelcsvargas.com
http://ecosdapoesia.org/eisfluencias/eisfluencias_outubro_2012_3_19_caderno_1.pdf
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